Que estranha realidade vem chegando de mansinho, invadindo minha fantasia e tirando-me a noção do desprendimento emocional.
Que realidade é esta que invade os meus sonhos mais perfeitos e me acorda para a vida, deixando para trás todos os momentos conquistados embora não aproveitados em sua plenitude?
Que desassossego impertinente que toma todo o espaço da minha calmaria, fazendo o meu céu azul sem nuvens, se tornar cinzento e trovejante.
Que estado de agonia é este que luta para se instalar em meu peito onde meu coração bate tão forte que chega a me deixar sem forças e trêmulo, perdendo os sentidos?
Quando a vida "real" bate às portas da minha consciência, tudo isso se dissolve... se torna um "abstrato- concreto", quando apalpo as paredes à minha volta, o meu corpo dolorido, meus cabelos em desalinho e embranquecidos pelo tempo!
Quando essa vida, assim por mim vivida se estabelece de prontidão, me arremessa contra os meus desejos e me atira em um espaço de vazio absoluto em que é preciso procurar, tateando meus pesares, assumindo minhas culpas, declarando meus desabafos cortados pelos soluços que brotam de meu íntimo.
É impossível viver na ilusão durante uma vida inteira, ainda que em curso, esperando, calculando matematicamente a hora em que este fantasma da solidão pudesse evaporar por completo dando lugar a uma realidade menos sofrida, para quem somente busca pelo que de mais sagrado existe neste universo sem fim: O amor!
Não que fizesse do amor um ato impensado de loucura ou estupidez por me entregar tão sem reservas a ele....não...foi por me doar a quem de fato não o conhecia verdadeiramente e em sorrisos zombeteiros fechou a porta e se foi, deixando uma marca de desprezo, que me feriu como ferro em brasa e me colocou entre os mais dissabores e amargos efeitos!
Foi por amar demais que hoje me vejo recolhido em meus véus de aparente adolescência envelhecida e mesmo assim, emudecido diante dos ruidosos barulhos cotidianos em que poderia gritar minha raiva contida, mas somente consigo murmurar num breve espaço de tempo os meus "ais" tão abafados!
Às vezes sinto tanto amor dentro de mim que me parece explodir em inúmeros dardos reluzentes, ansiosos para alcançar um coração desprevenido ou também prevenido! Mas são tanto amor e carinho sendo desperdiçados que não posso conter meu transbordar, mesmo não indo de encontro à fonte em que também possa saciar minha intensa sede!
Talvez eu seja inocente, culpado ou uma vítima de mim mesmo por acreditar nas ilusões que me rodearam durante tantos anos de hibernação, mas era preciso dar o passo para seguir o caminho; Mas o caminho foi cortado e por instantes já não sabia mais como trilhar, como refazer esse percurso!
Com certeza foi preciso me levantar, deixar ainda uma ponta de fantasia entreaberta para que meus pés tocassem o chão frio não se enraizando, mas me dando cada vez mais passos largos e seguros!
E quando a realidade da vida descortinar o amor de uma forma tão banal e descartável como nos dias atuais, me sacudir e esbravejar, que eu possa acenar com gestos significativos de quem não deprecia, mas antes de tudo possa tentar conter minha dor, me ajoelhar, abençoar minhas lágrimas e abraçar minha confiança de que existe sim o amor, não feito de temerárias fantasias, mas de cortes que se cicatrizam e dando firmeza à carne machucada se estabeleça em brilho novo para a alma!
Bruno Garcia