sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Profanação




Beijo tuas mãos, pois reverencio o toque com que me profanas o corpo já entregue a teus caprichos místicos!
Tuas palavras ditas no silêncio já não as escuto... Vou sorvendo lentamente, qual vinho antigo que se torna mais saboroso com o passar do tempo e me embriago sem pudores nas doces revelações que me fazem sentir amado!
O teu beijo é carícia profunda que me tira do céu e me joga ao inferno, limita meu êxtase e me faz viajar por entre sensações desnudas, porém concebidas em prazer absoluto!
Bendito seja este sentimento que me intimida, desembaraça, enlouquece e tranquiliza, satisfaz e me refaz!
É neste porto que quero estar ancorado, neste labirinto que quero perder-me e não mais encontrar a saída!
Porque eu vivo em você... Pode ir para onde quiser que vou estar pulsando em seu peito continuamente!
Porque as marcas que se fizeram em nossas almas ficarão gravadas eternamente em outros tempos, outros mundos, como ferro em brasa a machucar delicadamente aquilo que não buscamos, mas que nos dilacera de forma tão ardente e prepotente, a julgar nossos sentimentos de forma tão sagaz e irrecuperável!

Bruno Garcia

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Reencontro





Quando me deparei frente a frente com você, naquela fração de segundos, em que meus olhos encontraram os teus, neles mergulhei intensamente sentindo que estava desbravando sua alma, fazendo uma viagem em sua mente, buscando nos teus pensamentos as idéias mais arrebatadoras e revirando tudo que buscava casar-se com meus próprios ideais!
Seu corpo irradiava tamanhas vibrações que sentia o calor me consumir, queimando os meus desejos secretos, me tentando a entrega total de maiores emoções!
Os carros passando apressados, o som das buzinas e o ensurdecedor burburinho das pessoas conversando se misturando ao ambiente, nada disso fazia com que se dissipasse o meu silêncio interior, minha imobilidade, a magia daquele momento!
Quando teu sorriso brotou espontâneo, meu coração bateu apressado e não sabia se naquele instante morreria, tal a intensidade violenta em que me dispus a senti-lo, parecendo que naquele vazio que nos envolvia ele se fazia escutar também... Pois meu corpo tremia, mas mesmo assim, a serenidade interior lutava contra o medo, querendo ganhar espaço e dominar triunfante!
O toque das mãos foi como um choque da realidade com a ilusão, tudo se desfez instantaneamente e quando dei por mim, já o abraço forte nos envolvia!
E não foi preciso dizer nenhuma palavra; Recostado em seu ombro sentia sua respiração mais ofegante e desejei que o tempo parasse ali, naquele momento, em que ambos sentíamos as mais inexplicáveis sensações!
O choro, no início preso, se soltou por fim e os soluços e lágrimas escorriam por nossas faces, nos banhando em carícias totalmente permitidas e desejadas!
Pois chorar de alegria é como desaguar o sal das lágrimas em um manancial de riquezas prósperas e ocultas!
De seu corpo não queria me separar e também senti a mesma vontade vinda de seus braços que me cingiam a ponto de querer que nos tornássemos um só!
Quando a emoção tão desenfreada se acalmou um pouco, toquei em seus cabelos e os senti macios, o inebriante perfume, o calor de tua pele mais veemente!
O beijo aconteceu. Nossas bocas unidas, nossas línguas entrelaçadas, num frenesi sem fim!
Já não sentíamos medo de coisa alguma... Nosso único receio era que acordássemos de um sonho, o que não aconteceu, pois era tudo real e maravilhoso!
A sua voz grave por fim se fez ouvir, mas, ternamente em meus ouvidos!
E aquele som foi como uma melodia doce, e, ao mesmo tempo forte, determinada!
E então já não falávamos mais de forma a dar de ouvir aos que nos rodeavam e passavam sem sequer notar o momento único e tão esperado!
Eram sussurros, velados, guardados por tanto tempo e que agora tinham sua vez!
Por quanto mais o tempo se passou eu não sei dizer!
Só sei que foram os momentos mais felizes... Em que duas almas que se reencontram, se identificam e se resguardam como o querer perpetuar num santuário não mais particular, toda sua vazão de sentimentos antes revirados e agora girando em sentido organizado, em perfeita sintonia!
Que o teu amor me cubra com o manto da paz há tanto tempo buscado;
Que meu amor te cubra de beijos e finas delicadezas que me permito doar abundantemente!
E, que seja duradouro, mas, construído em alicerces seguros que possam nos conduzir a nada mais que seja preciso fazer ou provar, para se sentir e dizer: EU AMO VOCÊ!

Bruno Garcia

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Fantasia




Vestiu-se toda de festa e adornos mil;
Expressou o seu sorriso mais faceiro e encanto juvenil;
Esperou impaciente e cantou baixinho em meio à orquestra varonil;
Por fim junto ao copo vazio viu se aproximar a solidão e irremediavelmente a desilusão;
Aí cantou a passarada, iniciando com a alvorada o raiar de mais um clarão;
O salão vazio como por encanto a tomou nos braços, corpo já quase desfalecido e, a rodopiou em uma dança frenética e inesperada;
E no seu longo pranto cintilaram gotas que já não eram do orvalho;
Desfez-se em poesia e caíram por terra os graciosos enfeites de outrora;
A ausência tão sentida, igualmente retraída se despiu em meio à dor;
E no leito perfumado, o corpo nu, branco e macio, recaiu exasperado;
O amor não veio ou não veio o objeto amado?
Cerra os teus olhos e sonha... Em meio ao branco e preto, que o colorido se fará notar... E não alivies a alma, que de tão serena e mansa já não a deixará despertar!

Bruno Garcia